Um oásis
em meio ao deserto. Essa pode ser a analogia para entender o resultado das
escolas particulares piauienses que se destacaram no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) de 2010, divulgado na semana passada. Quem consultou a lista das
dez escolas com maior nota no teste pode constatar que o Piauí estava mais bem
representado do que São Paulo. Enquanto a única instituição paulista era o
Colégio Vértice (3º lugar), o Piauí emplacava o Instituto Dom Barreto (2º
lugar) e o Educandário Santa Maria Goretti (7º lugar), ambos sediados na
capital Teresina. A boa performance se repetia no ranking das 100 melhores:
seis escolas eram piauienses, o que deixou o Estado em quarto lugar entre as
unidades federativas com mais instituições na lista atrás apenas de Rio de
Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Se o bom
desempenho dessas seis particulares enche de orgulho o piauiense, o mesmo não
se pode dizer do resultado geral dos mais de seis mil colégios do estado. No
ranking das unidades federativas, o Piauí é o antepenúltimo, à frente apenas de
Tocantins e Maranhão e bem abaixo da média nacional. “Os colégios que
apresentaram bons resultados são para a classe média alta, que é uma pequena
fatia da sociedade piauiense”, analisa o professor Denis Barros de Carvalho, do
Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do
Piauí (UFPI). “Seus alunos têm um capital intelectual alto oriundo da própria
família, o que é uma realidade bem diferente da encontrada nas escolas
públicas, onde os pais dos estudantes muitas vezes são analfabetos.”
Quando
Dom Barreto e Santa Maria Goretti são analisados de perto, percebe-se que não
há mágicas por trás do bom resultado. Ambos adotam um modelo rígido, com cargas
horárias estendidas e cobrança individualizada. Se no Brasil um estudante do
ensino médio não passa mais de cinco horas por dia em sala, nessas instituições
a carga horária chega a exceder sete horas. “É mais fácil aprender tendo o
professor para tirar as dúvidas do que estudando em casa”, atesta Luan Barbosa,
18 anos, ex-aluno do Santa Maria Goretti e atual estudante de medicina da UFPI.
O rigor valeu às escolas um apelido popular entre alunos de outros colégios.
Ficaram conhecidas como “fábricas de doido”. Amina Machado, 18 anos, estudante
de arquitetura da UFPI e ex-Dom Barreto, diz não se incomodar com a
brincadeira. “Para mim valeu a pena”, diz.
Salas
abarrotadas também não fazem parte do cotidiano desses alunos. “Para nós, as
turmas menores são um pressuposto para conseguir uma relação mais próxima entre
professores e estudantes”, explica Marcela Rangel, coordenadora pedagógica do
Instituto Dom Barreto. No colégio, as classes nunca recebem mais de 35
estudantes. No Santa Maria Goretti, o limite é de 25.
Essa
realidade, porém, não é reproduzida na rede pública. E o reflexo pode ser visto
pelas estatísticas de entrada na principal universidade pública do Estado, a
UFPI. Na instituição, os alunos cotistas (que cursaram toda
a Educação básica em escolas públicas ou com bolsas) ocupam apenas
16% do total de 18.500 vagas. Para Ocimar Alavarse, da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a dubiedade do Piauí
coloca em evidência um problema antigo que não vem sendo sanado pelo Enem: a
desvantagem dos alunos das escolas públicas na disputa por uma vaga. “Ao se
colocar como um vestibular nacional, ele explicita ainda mais esse problema.”
Na visão do governo, porém, o exame nacional é o caminho. “Enquanto a
iniquidade for grande, os jovens de classe média terão vantagem, mas o trabalho
do governo é reverter essa situação”, disse à ISTOÉ a secretária
de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar.
Enquanto
não se conquista mais igualdade nas condições de acesso ao ensino
universitário, o incômodo é partilhado até mesmo por quem está no topo do
ranking. “Antes de sermos empreendedores na área de Educação, somos
educadores”, diz Dalton Leal, diretor pedagógico no Educandário Santa Maria
Goretti. “O Piauí é um Estado que precisa evoluir muito socialmente e a única
maneira de isso acontecer é por meio da Educação, que precisa ser de boa
qualidade e para todos.”
Instituto
Dom Barreto
Nota no
Enem 2010: 754,13
Posição no ranking do Enem: 2º
Ano de criação: 1944
Número de alunos: 3.300
Média de alunos por sala: 35
Mensalidade ensino médio: R$ 696
Posição no ranking do Enem: 2º
Ano de criação: 1944
Número de alunos: 3.300
Média de alunos por sala: 35
Mensalidade ensino médio: R$ 696
Educandário
Santa Maria Goretti
Nota no Enem 2010: 727,60
Posição no ranking do Enem: 7º
Ano de criação: 1971
Número de alunos: 1.100
Média de alunos por sala: 25
Mensalidade ensino médio: R$ 798
Posição no ranking do Enem: 7º
Ano de criação: 1971
Número de alunos: 1.100
Média de alunos por sala: 25
Mensalidade ensino médio: R$ 798
FONTE: 18/09/2011 - IstoÉ






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